Oito produtores que desistiram da pecuária e passaram a cultivar vegetais

Atualmente, vemos uma tendência crescendo: muitos pecuaristas têm passado a cultivar exclusivamente vegetais, promovendo uma grande mudança no seu modo de vida. Essa transição ocorre por dois motivos principais: o reconhecimento do papel da pecuária na crise climática e o reconhecimento do dilema ético que é enviar para o abate os animais que cuidavam. Aqui falaremos sobre oito produtores que já fizeram essa mudança.

Jay e Katja Wilde, produtores de carne de boi

O pai de Jay comprou a Bradley Nook – uma fazenda produtora de leite na Inglaterra – em 1956 e mais tarde a converteu em fazenda de bois para produção de carne. Jay o ajudou a gerir a fazenda e assumiu sua administração em 2011, quando seu pai morreu. Como vegetariano, Jay há muito achava difícil enviar as vacas para o abate e, em dado momento, percebeu que não poderia mais fazê-lo. Com o apoio da Vegan Society, o último rebanho foi poupado do matadouro. Alguns animais permaneceram na fazenda para serem cuidados por Jay e Katja, enquanto os demais foram viver em Hillside Animal Sanctuary. A propriedade atualmente está num processo de transição para se tornar uma fazenda de permacultura com uma escola de culinária vegana. Jay e Katja foram os primeiros agricultores do Reino Unido a fazer essa mudança, baseada numa visão ética, o que levou o aclamado cineasta Alex Lockwood a criar um curta-metragem vencedor do BAFTA sobre eles. É altamente recomendável assistir 73 cows (ative as legendas em português).

Jay e Katja em sua fazenda

Laurence Candy, produtor de carne de boi e leite

Laurence Candy, da Fazenda Northwood, em Dorset, Reino Unido, passou por vários eventos que mudaram sua vida num espaço muito curto de tempo. Primeiro, perdeu quase todos os animais da sua produção de leite devido à tuberculose bovina, depois se seguiram graves doenças familiares e a trágica morte do cunhado. Com o próprio pai na UTI, Laurence passou por uma transformação interna e descobriu pela primeira vez que não conseguia mandar suas vacas para o matadouro. Laurence já havia iniciado uma conversão para a agricultura biológica em reconhecimento do impacto que as suas atividades tinham no ambiente local. Agora, ele deu um grande passo e está cultivando de forma vegana – isto é, sem nenhum insumo animal. As vacas foram salvas e se juntaram às de Jay e Katja em Hillside Animal Sanctuary. Entretanto, Laurence continua a defender uma mudança na sua indústria: “Não há como fazer negócios como antes. É preciso dizer a verdade e encarar os fatos. Temos que chegar a zero emissões o mais rápido possível, e isso significa reduzir o número global de rebanhos”. Se você entende inglês, pode ler mais aqui sobre a transição de Laurence, que foi apoiada pela Stockfree Farming.

Sivalingam Vasanthakumar, criador de cabras e ovelhas

Sivalingam Vasanthakumar cresceu em uma fazenda que produzia tanto vegetais quanto leite nos arredores de Colombo, no Sri Lanka. Ele estudou agronomia na Índia e mais tarde fez mestrado no Reino Unido. Descobriu que as práticas ocidentais, como separar os bezerros das mães logo após o nascimento, eram profundamente perturbadoras, mas entendeu que não tinha muita escolha. Esse era o seu trabalho e precisava lidar com isso. Depois de trabalhar em fazendas de outras pessoas, ele conseguiu sua própria terra e começou a criar cabras para o abate. Contudo, cada vez era mais difícil levar os filhotes indesejados ao matadouro. Parecia uma traição. Ele então passou a criar ovelhas, mas descobriu que sentia exatamente a mesma coisa em relação aos cordeiros. Até que finalmente ligou para o Goodheart Animal Sanctuary, e seus animais foram para um lar feliz. Hoje, Sivalingam é dono de um sítio que está passando por uma transição a fim de abrigar uma horta em meio à natureza com o objetivo de fornecer produtos para o seu negócio de alimentos veganos, o Kumar’s Dosa Bar.

Thomas Reinhard e Fabienne Meier, produtores de ovos

Thomas e Fabienne criaram duas mil galinhas para a produção de ovos durante muitos anos, até que o sofrimento destes animais finalmente os tocou. Embora o rebanho deles fosse pequeno para os padrões da indústria, Thomas e Fabienne perceberam que com esse número de galinhas em um só lugar não poderiam cuidar de cada animal. Elas sofriam ferimentos e praticavam canibalismo, algo comum nessa indústria. Mesmo sem esses problemas de bem-estar, o casal achava angustiante mandar as galinhas para o abate quando a produtividade diminuía. Thomas disse que se sentiu libertado ao encerrar esse ciclo, pois atualmente eles cuidam de plantações e árvores frutíferas. Assista à história deles no lindo filme We Animals.

Thomas e Fabienne deram abrigo permanente a 200 galinhas

Mike Lanigan, produtor de carne de boi

Mike, descendente de gerações de criadores de bois em Ontário (província do Canadá), um dia se viu dando duro para manter vivo um bezerro prematuro. E foi aí que tudo mudou. “Tive uma epifania”, disse ele. Embora não gostasse de mandar os animais para o abate, nunca havia pensado que houvesse escolha. Mas quando se deparou com esse pequeno bezerro, a alternativa apareceu muito claramente, o que gerou uma mudança  imediata. Mike nunca mais mandou seus animais para o abate, em vez disso, tornou-se um protetor para eles. O resto de suas terras permaneceu produtiva por meio do cultivo de vegetais orgânicos como beterraba, repolho e rabanete. Você pode conhecer os moradores da Mike’s Farmhouse Garden Animal Home aqui e até mesmo agendar um passeio quando estiver por perto da região.

Beat e Claudia Troxler, produtores de leite e de porcos

Beat, um agricultor de quarta geração, herdou a fazenda da família na Suíça e talvez a estivesse administrando como uma fazenda tradicional se não tivesse conhecido sua futura esposa, Claudia. As conversas sobre os animais como indivíduos sencientes permitiram que ele mudasse sua maneira de ver o mundo, de modo que logo eles nomearam a sua propriedade de Lebenshof Aurelio, em homenagem ao primeiro bezerro que nasceu ali e não foi separado de sua mãe. Hoje, a fazenda é um santuário para 55 vacas e muitos outros animais. Beat e Claudia cultivam aveia, da qual fazem seu próprio leite, que é vendido na loja da fazenda.

Nala recebe cenouras de Claudia Troxler no Lebenshof Aurelio

Davey e Hollie Schacherl, produtores de carne de boi

Davey é um agricultor texano de 7ª geração e é vegano. Era inevitável que ele e Hollie quisessem transformar sua fazenda num empreendimento sustentável e ético. Eles conseguiram convencer o pai de Davey a adiar a venda dos animais para o abate até que pudessem apresentar uma proposta. Foi acordado que 26 vacas permaneceriam na fazenda e ali viveriam. Enquanto isso, outras áreas da propriedade foram destinadas à permacultura. Paralelamente a esses empreendimentos de base ética, o casal transformou a fazenda em local para casamentos e outros eventos. Diz Hollie: “Só porque as coisas foram feitas de uma forma não significa que devamos manter esse ciclo. Se você tem o conhecimento e o privilégio de poder fazer de outra forma, por que não?”.

Selina e Adrian Blaser, produtores de carne de boi

Selina era vegetariana e se casou com um produtor de carne de boi. Ela pensou que poderia aceitar isso, já que as vacas viviam uma vida aparentemente boa em suas pastagens na Suíça. Mas depois de apenas um ano, ela não suportava que os animais fossem mandados para o abate, e a ideia de perder uma vaca mais velha em particular lhe partia o coração. Aquela vaca já havia parido 13 bezerros e deveria ser encaminhada ao matadouro. Desesperada para salvá-la, Selina contatou Sarah Heiligtag, da Transfarmation. Sarah concordou em salvar aquela vaca, mas em troca disse a Selina que ela precisaria convencer o marido a fazer mudanças significativas. Selina sabia que não queria ganhar dinheiro com algo que não concordava, de modo que as engrenagens foram colocadas para funcionar. Hoje, a fazenda é ao mesmo tempo um santuário vegano e uma fazenda produtiva com o cultivo de grão-de-bico, que é transformado em homus, além de seus próprios vegetais.

Selina Blaser trabalha na estufa de seu recém-transformado santuário vegano

Ajudando os pecuaristas na transição

Centenas de pecuaristas já fizeram a transição, e há várias entidades em todo o mundo dedicadas a ajudar neste processo:

De acordo com Sarah Heiligtag, da Hof Narr, que transformou a sua própria fazenda em uma empresa vegana e santuário, e depois ajudou mais de cem outras fazendas a fazer a transição: “Todo o processo de transição é também um processo de transformação pessoal. É como um trabalho pela paz para as próprias pessoas. Elas passam a se alinhar com seus valores”.

Sarah Heiligtag em seu santuário, Hof Narr, em Hinteregg, Suíça

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