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O veganismo beneficia as pessoas tanto quanto o meio ambiente e os animais. Por exemplo, nossas escolhas alimentares afetam a quantidade de comida disponível para alimentação humana e, portanto, impactam a capacidade de muitas pessoas acessarem alimentos nutritivos suficientes.
Também atingem trabalhadores que são explorados e prejudicados na produção de certos alimentos. Além disso, a pecuária nos afeta impulsionando o surgimento de doenças com potencial pandêmico e patógenos resistentes a antibióticos. Em todos os casos, a pecuária é uma indústria que traz um grave impacto prejudicial.
A maioria dos animais criados para consumo no planeta é mantida dentro de sistemas agrícolas intensivos. Isso significa que uma quantidade enorme de animais estressados e com imunidade comprometida está amontoada dentro de vastos galpões, muitas vezes convivendo com sua própria sujeira. Não é uma surpresa que nessas condições as doenças e lesões sejam abundantes. O problema é que, para controlar a proliferação das doenças, os animais recebem doses constantes de antibióticos com o objetivo de manter o maior número possível de animais vivos até o abate. 80% do consumo total de antibióticos importantes está no setor animal. A resistência a antibióticos causou 1,27 milhão de mortes em 2019 – mais mortes do que HIV/AIDS ou malária – e as infecções resistentes a antimicrobianos foram responsáveis por 4,95 milhões de mortes.
Nossa longa história de exploração dos animais por carne, leite, ovos e pele trouxe também uma longa trajetória de doenças zoonóticas, ou seja, doenças que são transmitidas de animais para pessoas. Atualmente, três quartos de todas as doenças infecciosas emergentes em pessoas se originam em animais, incluindo H1N1, a “gripe suína”, que infectou cerca de 60,8 milhões de pessoas em seu primeiro ano, e H5N1, a “gripe aviária”, que mata 60% de todas as pessoas infectadas. Os virologistas vêm alertando sobre fazendas industriais há muito tempo, enquanto os ativistas as chamam de “bombas-relógio” em termos de seu potencial pandêmico.
Você já pensou nas pessoas que trabalham matando animais? Quando comemos produtos de origem animal, pagamos para que alguém tenha uma rotina de trabalho violenta e emocionalmente devastadora. No documentário “Carne, Osso”, da ONG Repórter Brasil, vemos que há 3,4 vezes mais chances de desenvolvimento de transtornos mentais entre os trabalhadores de frigoríficos do que na população em geral. Não é de se surpreender. Como você se sentiria no fim do dia se tivesse que matar animais o dia todo? Além disso, a pecuária é uma das grandes vilãs em casos de trabalho análogo ao de escravo no Brasil. De acordo com dados do Governo Federal sistematizados pela Comissão Pastoral da Terra, mais da metade dos casos de trabalho escravo flagrados no país entre 1995 e 2020 aconteceram no setor da pecuária. Foram 1950 casos, que representam 51% do total entre todas as indústrias.
A pecuária está destruindo a Floresta Amazônica e outros biomas brasileiros. 80% do desmatamento no Brasil é causado para a abertura de pastos. Outro vetor do desmatamento é a produção de monoculturas de soja para ração de animais. De acordo com a EMBRAPA, “o mercado de soja é influenciado e totalmente dependente do mercado de carnes, pois seu principal produto, o farelo proteico, é direcionado para a nutrição animal”. Em função da ameaça trazida pelo consumo de carne, grupos indígenas da Colômbia e do Brasil processaram a rede de supermercados francesa Casino por desmatar a Amazônia.
Nosso sistema alimentar funciona em uma lógica global de exploração ambiental e humana que atinge mais intensamente os países em desenvolvimento, como o Brasil, em benefício dos mercados mais desenvolvidos como EUA e Europa. A carne brasileira é um grande exemplo disso. Atualmente, o Brasil é o maior exportador de carne do mundo. Entretanto, esta produção tem sérias consequências para a população brasileira, já que a indústria da carne é a principal causa de desmatamento no país. Investigações já revelaram conexões entre o consumo de carne em supermercados na Europa e nos Estados Unidos com a destruição da Amazônia e do Cerrado, entre outros biomas. A produção da soja também tem o mesmo papel, uma vez que o Brasil é o segundo maior exportador do produto que é usado no mundo todo para ração de animais na pecuária. Estudo aponta que parte das exportações de soja da Amazônia e do Cerrado à União Europeia tem rastro de desmatamento ilegal. Nos oceanos, a exploração dos biomas brasileiros se repete. A indústria da pesca também beneficia economicamente empresas estrangeiras às custas dos biomas nacionais. Recentemente, uma multinacional americana firmou acordo para a instalação da primeira piscicultura marinha em escala industrial no Brasil, que ficará localizada em Ilhéus, na Bahia. Para quem já assistiu o documentário Seaspiracy, é claro o impacto que a exploração industrial causa aos oceanos e deve trazer ao bioma local.
A história da imposição de alimentos varia de um país para o outro e do tipo de colonização, mas o fato comum a todos os processos colonizadores é que o padrão alimentar mudou. Em muitos casos, os invasores europeus temiam que a comida indígena os deixasse doentes ou fracos. Por isso, trouxeram seus próprios alimentos e animais de criação, bem como forçaram os povos locais a trabalhar nas terras roubadas deles próprios para produzir os alimentos que os europeus queriam. Esse roubo de terra levou a um deslocamento em massa de pessoas, que as privou de seus alimentos tradicionais e as afastou dos lugares sagrados ligados às suas práticas culturais. O rompimento abrupto da ligação das pessoas com sua terra e seus alimentos implicou na perda de saberes tradicionais relacionados ao cultivo de produtos locais e seu preparo. Hoje, esse legado de destruição deixa algumas comunidades ao redor do mundo sobrecarregadas com taxas desproporcionalmente altas de problemas de saúde.
Racismo ambiental é um termo que se refere ao processo pelo qual pessoas negras e periféricas são impactadas desproporcionalmente por riscos ambientais. Os frigoríficos e fazendas industriais geralmente estão localizados próximos a comunidades marginalizadas para garantir precarização da mão de obra, vulnerável pela pobreza. Essas mesmas comunidades sofrem ainda com o impacto da destruição ambiental trazida pela poluição gerada por essas instalações na água, solo e ar. Além disso, outra grave questão se refere tanto à desnutrição, quanto ao acesso a alimentos envenenados por componentes químicos ou ao incentivo do consumo de comida de baixa qualidade nutricional pelas populações periféricas. Quando somados, ambos sistemas promovem a falta de saúde por meio de práticas agrícolas de degradação ambiental localizadas em comunidades vulneráveis e por negar o acesso a alimentos saudáveis de alta qualidade.
Embora produzamos alimentos suficientes para alimentar toda a população global, mais de 800 milhões de pessoas ainda passam fome. Uma das razões é o desvio de recursos da alimentação humana para os bilhões de animais criados para consumo. Isso eleva o custo dos grãos, com o desejo global por carne muitas vezes se sobrepondo às necessidades dos mais vulneráveis de apenas se alimentar. O centro da questão é que a pecuária é inerentemente ineficiente. Os porcos precisam de 8,4 kg de ração para produzir apenas 1 kg de carne, enquanto as galinhas precisam de 3,4 kg. Globalmente, 40% de toda a terra cultivada é usada para plantar grãos para ração de animais da indústria. Esta é uma área que, se fosse usada para cultivo de vegetais diretamente para a alimentação humana, poderia alimentar mais quatro bilhões de pessoas. Atualmente, a pecuária usa 83% das terras agrícolas, entre pastos e plantações de grãos para ração, mas fornece apenas 18% das calorias usadas para alimentar seres humanos. Por isso, escolher alimentos à base de plantas é uma questão de equidade e justiça alimentar para garantir que haja alimentos nutritivos suficientes para todos.