A discussão pública sobre alimentos ultraprocessados é muito bem-vinda, mas tem se tornado, como apontado pela bióloga Jenny Chapman, uma “histeria”. O objetivo aqui é avaliar a discussão com serenidade, analisar a veracidade das alegações, identificar quem as faz e por quê, e compreender quais são as implicações para a nossa saúde.
Todos os alimentos processados são ruins?
De jeito nenhum. Muitos alimentos processados são ótimos e fornecem nutrientes essenciais para nos ajudar a ter uma alimentação saudável e equilibrada. Alimentos como pão integral, macarrão, feijão ou mesmo vegetais enlatados são considerados processados por conterem ingredientes adicionados, como sal, óleo, açúcar e conservantes, mas ainda assim podem ser saudáveis! Na verdade, muitos alimentos processados, como pão e cereais matinais, fornecem nutrientes essenciais justamente porque esses nutrientes foram adicionados intencionalmente. No entanto, pesquisas indicam que alimentos processados só podem ser saudáveis se forem de origem vegetal.
Quais alimentos processados são ruins?
Há inúmeras evidências de que todas as carnes processadas são extremamente prejudiciais à saúde, inclusive podem causar câncer de intestino. Qualquer pessoa que leve a saúde a sério deve evitar bacon, linguiça, presunto, carne enlatada, carne seca e molhos à base de carne, além de qualquer outra carne que tenha sido salgada, curada, fermentada ou defumada. Por outro lado, não há evidências de qualquer ligação entre as versões vegetais desses produtos e doenças.
Os ultraprocessados
O recente foco em alimentos ultraprocessados começou com o popular livro de Chris van Tulleken (conhecido como Dr. Chris), intitulado Gente ultraprocessada (Ultra-Processed People, em inglês). Ele colocou os ingredientes presentes na nossa comida em destaque, revelando o que eles realmente são e os efeitos que causam em nossos corpos. Assim, para surpresa geral, ficou evidente que grande parte do que consumimos não é exatamente comida, mas sim uma mistura de substâncias químicas elaboradas para maximizar os lucros à custa da nossa saúde. O livro desencadeou uma onda mundial de interesse no assunto e de mudança de comportamento. Isso foi muito positivo, mas permitiu que uma das indústrias mais poderosas do planeta – a indústria da carne – começasse a disseminar informações enganosas.
O que é um alimento ultraprocessado?
Os alimentos ultraprocessados são feitos “na maior parte ou inteiramente” de substâncias derivadas de alimentos, juntamente com aditivos, como corantes, adoçantes artificiais, antiaglomerantes e emulsificantes. É fácil de entender por que Van Tulleken afirma que tais produtos não são realmente alimentos.
Qual o impacto do consumo de alimentos ultraprocessados no corpo humano?
Alimentos ultraprocessados têm sido associados a 30 problemas de saúde diferentes, incluindo um risco aumentado de doenças cardiovasculares e morte por todas as causas. Um estudo descobriu que consumir alimentos ultraprocessados várias vezes ao dia pode aumentar a probabilidade de problemas de saúde mental.
Os alimentos consumidos por veganos são ultraprocessados?
Quase todos os alimentos consumidos por veganos são totalmente naturais. Quando consideramos a variedade de frutas, grãos, castanhas, leguminosas, ervas, especiarias e feijões, bem como em todos os produtos deles derivados, vemos que uma alimentação à base de plantas pode passar longe de produtos ultraprocessados. Mesmo os alimentos à base de plantas que passam por algum processamento, como pasta de amendoim, tomates enlatados e tahine, geralmente contêm um ingrediente altamente nutritivo. Esses alimentos são minimamente processados, de modo que são saudáveis, práticos e acessíveis, o que é essencial para uma alimentação equilibrada.
A controvérsia surge em relação a alimentos como hambúrgueres e nuggets à base de plantas. É óbvio que esses produtos são muito mais processados e não são saudáveis, mas tendem a representar uma parte muito pequena de uma alimentação predominantemente saudável e rica em vegetais. Além disso, diferentemente da carne processada de origem animal, as carnes à base de plantas tendem a ser ricas em fibras e pobres em sal e gorduras saturadas. Esses fatores contribuem para minimizar muitos dos efeitos prejudiciais geralmente associados aos alimentos ultraprocessados não veganos.
É melhor consumir carne à base de plantas em vez de carne de origem animal?
Com certeza. E há muitas razões para isso.
Uma delas é que toda carne processada causa câncer, de modo que é sempre melhor escolher carne à base de plantas. Adotar uma alimentação balanceada à base de plantas é nutricionalmente saudável e a prova disso está na experiência. Veganos têm menor risco de doenças cardíacas, derrame, diabetes, hipertensão, Alzheimer e alguns tipos de câncer.
Além disso, adotar uma alimentação à base de plantas é melhor para o planeta de inúmeras maneiras, como em relação ao clima, às florestas, aos rios, aos oceanos e à vida selvagem. Para uma população humana saudável é necessário um planeta saudável, assim, precisamos realmente consumir alimentos à base de plantas.
Consumir carne vegana também é melhor para reduzir a quantidade de sofrimento no mundo. Uma quantidade dez vezes maior de animais do que de pessoas existentes no planeta é abatida todos os anos para consumo humano, além daqueles que são explorados para que possamos levar seus filhotes, leite e ovos. Isso é completamente desnecessário.
Três dicas para uma alimentação saudável
- Coma alimentos de origem vegetal, incluindo semanalmente pelo menos 30 diferentes frutas e vegetais na sua alimentação.
- Comer alguns alimentos veganos processados é positivo; obtemos nutrientes importantes de produtos como pão integral, cereais matinais sem açúcar, faláfel, homus, tofu e pasta de amendoim. Consumir alimentos veganos ultraprocessados de vez em quando não é um problema, desde que a maior parte da alimentação seja composta por produtos de origem vegetal não processados ou minimamente processados.
- Evite todas as carnes processadas e ultraprocessadas. Elas causam câncer.
