Pecuária leiteira: o que é? E como funciona uma fazenda de leite?

Crédito: L214

O que poderia ser mais natural do que um ser humano adulto desmamado totalmente crescido bebendo leite materno de outra espécie? Quando colocado assim, soa um pouco estranho, não é? Então, como beber leite de vaca se tornou tão normal? Isso parece natural? Por que não bebemos leite de cachorros ou onças ou baleias? Afinal, eles também produzem leite para seus filhotes. Quando você começa a questionar por que bebemos leite, milhares de perguntas surgem.

História da pecuária leiteira

Os seres humanos nem sempre beberam leite de outra espécie. Após a infância (que é quando todos os outros mamíferos param de beber leite), nossos ancestrais simplesmente não conseguiam digeri-lo e ainda hoje a maioria dos adultos em todo o mundo ainda não produz a enzima lactase necessária para digerir o açúcar do leite, a lactose.

No entanto, algumas pessoas têm esse gene, pois essa mudança genética no homo sapiens surgiu há cerca de 7.500 anos. Com a capacidade de realmente digerir o líquido branco sem adoecer imediatamente, a saúde dessas populações melhorou naquele momento por dois motivos em particular. Primeiro, as comunidades se tornaram menos dependentes de colheitas que são vulneráveis às intempéries. Segundo, o leite era menos propenso a prejudicá-las do que o abastecimento local de água contaminada.

O avanço da tolerância ao leite e da pecuária leiteira andou de mãos dadas até hoje, quando existem mais de 265 milhões de vacas em fazendas leiteiras em todo o mundo. No entanto, uma pesquisa estadunidense revela que quase 100% das pessoas com ascendência asiática, africana e indígena desenvolvem intolerância à lactose na idade adulta, sendo que nas comunidades negras a incidência é superior a 70%. Aqueles que consomem laticínios podem sentir inchaço, diarreia, cólicas abdominais e nem saber o que está causando isso.

O que está acontecendo? Por que há tantas vacas e tanto leite quando tão poucas pessoas podem digeri-lo? A resposta pode ser encontrada nas expressões “vaca-leiteira” e “ouro branco”. É isso mesmo. O marketing para vender leite para as pessoas é agressivo, mesmo que isso as deixe doentes, porque há quem ganhe dinheiro com isso.

O que é a pecuária leiteira?

É a utilização e exploração dos sistemas reprodutivos das vacas (e menos comumente das ovelhas e cabras), a fim de produzir em massa um produto que é vendido para consumo.

Então, por que ordenhar vacas e não cães, onças ou baleias? Não tem nada a ver com o sabor ou a adequação do produto. As vacas são apenas maiores, portanto, produzem mais leite do que os cães, além de serem mais facilmente domesticadas do que onças ou baleias. É realmente apenas isso.

Como funciona uma fazenda leiteira

As vacas não produzem leite constantemente. Como todos os mamíferos, elas devem primeiro engravidar e o leite materno que seus corpos produzem destina-se a alimentar seus filhotes. Para garantir uma produção quase constante, as vacas criadas em fazendas são repetidamente engravidadas por inseminação artificial. Elas são reproduzidas seletivamente para atingir altos níveis de produção de leite, apesar do custo para os animais – mamas dolorosamente distendidas, infecções nos mamilos e mastite são comuns na indústria leiteira moderna. Ainda assim, nunca estamos satisfeitos. Queremos cada gota de leite de cada vaca e não podemos poupar nada para o bezerro para quem o leite foi feito. Além disso, é o leite que queremos, não o bebê e assim os animais jovens são retirados de suas mães logo após o nascimento para impedi-los de beber esse líquido valioso. Tanto a mãe quanto o filhote sofrem por dias com essa separação devastadora, como qualquer mãe e filho sofreriam.

As fêmeas recém-nascidas são levadas e isoladas dentro de um pequeno cercado. Incapazes de acariciar suas mães ou encontrar conforto em um rebanho, elas ficam sozinhas, muitas vezes acorrentadas, e podem apenas levantar ou deitar até que tenham idade suficiente para serem fecundadas e ordenhadas.

Os machos obviamente não podem produzir leite e, como são da raça errada para ganhar músculo rápido e produzir carne bovina, os pecuaristas não desperdiçam ração com eles. Em vez disso, eles podem ser criados para virar carne de vitela, sendo acorrentados dentro de cercados e mantidos permanentemente fracos para que sua carne fique clara e macia. Ou podem levar um tiro na cabeça no primeiro dia de vida.

É um sistema brutal.

Onde a pecuária leiteira é mais comum?

A Índia tem o maior número de vacas-leiteiras – quase 60 milhões. A União Europeia tem o segundo maior número, depois vem o Brasil e os Estados Unidos.

Embora a Índia tenha o maior número de vacas, a União Europeia produz coletivamente o dobro de leite. Os Estados Unidos vêm em segundo lugar, com pouco menos de 100 milhões de toneladas métricas de leite produzidas a cada ano. O Brasil fica na 5º posição com 24 milhões de toneladas métricas anuais.

Quais são as desvantagens da pecuária leiteira?

Por onde começar?

A pecuária leiteira é uma das indústrias mais prejudiciais ao meio ambiente do planeta por vários motivos. O primeiro é que as vacas usadas para produzir leite (e carne) são os principais fatores do colapso climático. Isso ocorre porque tanto elas quanto seu esterco geram muito metano, que produz 21 vezes mais aquecimento do que o CO2. Assustadoramente, as maiores empresas de laticínios do mundo emitem a mesma quantidade de gases de efeito estufa que o Reino Unido inteiro, a sexta maior economia do mundo.

A industrialização das fazendas leiteiras significa que esses animais que naturalmente pastavam não pastam mais da mesma forma que fariam na natureza. Em vez disso, recebem alimentos fabricados e processados que são levados até eles. Essa ração contém soja, grande parte dela cultivada em terras desmatadas, incluindo da Amazônia. Ao todo, 80% da safra de soja do mundo é usada para alimentar animais criados em fazendas, tornando a pecuária um dos principais impulsionadores do desmatamento e da dizimação da vida selvagem.

Milhões de animais de grande porte comendo muita comida significa que inevitavelmente também há muito cocô. Uma fazenda leiteira de 2.000 vacas, por exemplo, gera mais de 108.862 quilos de esterco diariamente. Aumente esse número proporcionalmente aos dezesseis milhões de vacas-leiteiras criadas no Brasil e é óbvio que isso é muito estrume para espalhar na terra como fertilizante. Em vez disso, os desejos são armazenados em ‘lagoas’ que muitas vezes vazam ou derramam acidentalmente (às vezes deliberadamente) e seus efeitos são devastadores. Isso envenena o ar e causa problemas respiratórios nas pessoas que moram nas proximidades, além de atingir a terra e os cursos d’água onde seu impacto é catastrófico.

De acordo com a Environmental Protection Agency dos EUA, o excesso de resíduos da pecuária, incluindo fertilizantes químicos e excremento da indústria de laticínios, é uma das principais fontes de poluição da água no país. O nitrogênio e o fósforo contidos no esterco causam a proliferação de algas que resultam em zonas mortas privadas de oxigênio, onde nenhuma vida sobrevive. Essas áreas sem vida estão crescendo em número e tamanho no mundo e não é surpreendente. O dejeto de 200 vacas-leiteiras produz tanto nitrogênio quanto o esgoto de uma comunidade de 5.000 a 10.000 pessoas

Além de tudo isso, quando produzimos leite, estamos desperdiçando de forma imprudente terra, água, comida e tempo dos agricultores. Esses recursos vitais não seriam mais bem utilizados na produção de alimentos nutritivos à base de plantas, sustentáveis ​​e essenciais para uma melhor saúde das pessoas?

Em vez de instalar essas indústrias prejudiciais que exploram os animais entre comunidades pobres e carentes, não seria melhor cultivar alimentos vegetais saudáveis ​​que possam ser disponibilizados localmente? 

Há muitas coisas prejudiciais na indústria de laticínios e isso sem mencionar a crueldade com as vacas.

Como as vacas são tratadas nas fazendas de leite?

As vacas são tratadas como se fossem máquinas que você abre uma torneira e sai o leite.

Como sabemos, as vacas produzem leite apenas quando estão grávidas, pois o leite materno é destinado aos bebês. Cada dia sem gestação é um dia de perda de produção, por isso a quantidade de vezes que uma vaca engravida não é deixada ao ritmo da natureza. As vacas são inseminadas artificialmente, o que envolve uma mão humana entrando no ânus da vaca para manipular o colo do útero, enquanto a outra mão insere um tubo de sêmen em sua vagina. De repente, o leite não parece tão bom, não é?

Quando os bebês nascem, eles são retirados de suas mães para que não bebam o leite que deveria ser para eles. As vacas demonstram extremo sofrimento com essa separação, muitas vezes berrando de tristeza como qualquer mãe faria. Sabe-se que as vacas escapam das fazendas e caminham quilômetros em busca de seus bezerros, tamanha é a força de sua determinação e amor. Agora pense um pouco nos próprios bezerros. Os recém-nascidos precisam de suas mães, no entanto, são levados à força para serem mortos ou isolados. Suas mães só podem olhar e gritar para que essa situação pare, mas isso acontecerá repetidamente, porque essa é a única maneira de manter a produção contínua de leite.

O preço biológico a pagar por ser constantemente engravidada e simultaneamente ordenhada é imenso. Não é à toa que as vacas ficam esgotadas ainda muito jovens. Quando não conseguem mais produzir tanto leite quanto é exigido delas, são levadas para a morte no matadouro. Isso não é um problema para o pecuarista, porque sempre há muitas bezerras que podem tomar o lugar de suas mães, até que elas também colapsem sob o estresse emocional, psicológico e físico de ser uma vaca-leiteira.

A pecuária leiteira é cruel?

A pecuária leiteira é cruel porque as vacas sofrem fisicamente. Além da claudicação, há uma alta incidência de mastite clínica – uma infecção dolorosa das mamas geralmente causada por bactérias transmitidas durante o processo de ordenha ou pela vida em ambientes imundos. A mastite é sem dúvida dolorosa, mas todos os dias esses mesmos úberes infectados são inseridos em máquinas para que o leite seja extraído deles.

A pecuária leiteira é cruel porque as vacas sofrem psicologicamente. Elas são seres inteligentes e sencientes, com personalidades próprias, com capacidade de aprender e exibir memória de longo prazo. Elas até se lembram das pessoas que as trataram com brutalidade. As vacas têm necessidades e desejos, mas nas fazendas intensivas modernas, elas não recebem nada que faça suas vidas valerem a pena.

A pecuária leiteira é cruel porque as vacas sofrem emocionalmente. Existe algo mais terrível do que forçar alguém a engravidar e roubar o bebê para poder coletar o leite? Em termos simples, a produção de laticínios parece uma ideia saída da série The Handmaid’s Tale.

A pecuária leiteira deve estar entre as indústrias mais cruéis do planeta.

Fatos sobre a pecuária leiteira

Aqui estão seis coisas que talvez você não saiba sobre a indústria de laticínios.

  1. A indústria da carne de vitela está inevitavelmente ligada à indústria dos laticínios. Se você odeia a ideia de um filhote ser confinado, acorrentado, deliberadamente mantido fraco e anêmico e abatido jovem, não é suficiente boicotar a carne de vitela. Você precisa boicotar o leite também.
  2. Investigações revelam que vacas grávidas são vendidas para frigoríficos e mortas em matadouros no Brasil.
  3. Os pelos ao redor dos úberes (mamas) das vacas podem ser queimados usando um maçarico de propano. A indústria admite que algumas vacas “reagem” a esse procedimento revoltante.
  4. Antibióticos e pesticidas são “predominantes” no leite de vaca do supermercado.
  5. A gastroenterologista Dra. Angie Sadeghi diz que o leite é “um veneno para o nosso intestino” (ative as legendas em português do vídeo do link).
  6. Pesquisadores da Universidade de Oxford descobriram que o leite animal mais sustentável ainda é pior para o planeta do que os leites vegetais menos sustentáveis. O que eles aconselham? Escolha leites à base de plantas.

Conclusão

A indústria dos laticínios está entre as mais impiedosas do planeta. Os animais são explorados por suas capacidades reprodutivas e seus filhotes são simplesmente descartados. É uma indústria que destrói o meio ambiente, causa imenso sofrimento a seres gentis, sencientes e deixa as pessoas doentes.

Não é por acaso que as vendas de leite estão diminuindo no mundo à medida que as pessoas abandonam esse veneno cruel e optam por leites vegetais.

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